quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Há dias assim...

Há dias assim…

Em que tudo parece ruir
Que a força nos falta, que a boca seca
E o coração aperta

Falar em justiça é tocar no vazio
E a incredulidade traz-nos um muro frio
Apetece-nos gritar, bem alto, bem longe
Até que a garganta nos doa… e a angústia voa

E bem lá no fundo
Acreditamos que é possível, que o desejo se fez
E as forças redobram-se à vez
Num abraço, no toque de uma concertina
Não acredito que seja sempre esta a sina
Tem de haver um outro sorriso

E na batalha que agora recomeça
De quem cai e tropeça
É hora de dançar com o destino mais uma vez

Todos juntos e mais algum
Reporemos o que não é possível de reparar
Renovaremos a nossa capacidade de amar
E nesta família alargada
Na qual o sangue interessa pouco ou quase nada
Volto a abrir os olhos e a sentir

Oiço uma esperança que calcorreia a espiral
E que enxota para os confins o espectro do hospital
E quando amanhã retomarmos o jogo da vida
E para os que sentiram a estrutura de crenças e de prioridades abalada
Este não terá sido apenas o dia da despedida
Será recordado como um dia de viagem, um rito
Cada qual com a sua experiência e processo, para lugares diferentes
E na mudança que se instala
Nada será como dantes… acredito.

Para o Sassá,
e todos os que ficam de outra forma
(3 Fev. 2008)

1 comentário:

Unknown disse...

"Há dias assim!!!!"
Será que são dias?
Hoje faz um ano que perdemos o "nosso" menino. pouco a pouco a vida foi nos levando á normalidade,mas nenhum dia passou sem que nos lembrassemos dele.
Ainda o vejo a jogar á bola na escola.ainda vejo os seus cabelos a voarem quando corria atrás da bola...A escola nunca mais foi a mesma
Ainda ouço as suas gargalhadas,é impocivel esquece-lo.
Ele era um menino super especial, era o melhor amigo do meu filho.
Era tão cedo para ele partir, ainda tinha tanta coisa para aprender e tanta coisa para nos ensinar...
A sua alegria, a sua tolerancia ,a sua educação e toda a sua sabedoria ,mesmo com os seus 7 anos,fez dele uma criança muito especial para nós.
Passou um ano e esta bola ainda cresce na minha garganta quando falo ou escrevo sobre ele.
Ainda não consigo falar dele sem chorar.
Será que "Há dias assim"?????
Um beijinho muito grande para o Ari, para o Toni, para a professora Antónia, para a Barbara, para a Susana e Ana Teresa e para todos aqueles que
continuam com o Sássá no coração.

Ana Silva